Noções de incêndio Florestal - tipos, combates e aceiros

INCÊNDIOS FLORESTAIS

 Definição:

Entende-se como Incêndio Florestal, toda destruição total ou parcial da vegetação, em áreas florestais, ocasionada pelo fogo, sem o controle do homem ou qualquer que seja sua origem.
Proteção Florestal é o conjunto de medidas que visam à preservação das espécies vegetais.

Causas dos incêndios florestais:

podemos classificar as causas dos incêndios florestais, sobre dois aspectos distintos:

1 - Quanto a natureza da causa, o incêndio florestal pode ser de:

a) natureza química - são os incêndios que têm origem em uma reação química qualquer;

b) natureza física - são os incêndios que têm origem por meio de um efeito físico qualquer;

c) natureza biológica - são os incêndios que têm origem em reações provocadas por bactérias, fermentações, etc.

2 - Quanto à natureza do agente, o incêndio florestal pode ser:

a) agente humano - são os incêndios cuja origem foi provocada pelo ser humano, de forma dolosa ou acidentalmente. Ex.: ponta de cigarro acesa;

b) agente natural - são os incêndios cuja origem foi provocada pelos elementos da natureza, sem interferência da vontade ou erro humano.

Tipos de vegetação:

Existem vários tipos de vegetação, bem como diferentes combinações entre si, conforme segue:

1) campo ou campo limpo - é a forma ou apenas um andar de cobertura vegetal, onde raramente ocorrem formas arbustivas ou arbóreas;

2) campo sujo ou campo cerrado - é a formação de Campos Limpos, entremeados de arbustos esparsos e raras formas arbóreas, onde a área de vegetação rasteira é sempre dominante;

3) cerrado - é constituído por dois níveis, o primeiro de vegetação rasteira e o segundo de arbustos e formas arbóreas que raramente ultrapassam 06 (seis) metros de altura;

4) cerradão - é constituído por três níveis, sendo os dois primeiros iguais aos dois do Cerrado e um terceiro formado de árvores que podem atingir de 18 a 20 metros de altura;

5) floresta - é constituída por árvores de grande porte em uma área relativamente extensa e, dependendo de sua origem, podemos ter:

a) floresta natural - que surgiu em determinada área, sem interferência do homem;

b) floresta artificial - que é aquela, plantada pelo homem, também conhecida como reflorestamento, geralmente constituída por poucas espécies vegetais.

Comportamento do fogo:

Conceitualmente corresponde ao conjunto de efeitos, principalmente de caráter físico-mecânico que se observa no ambiente. É a situação do fogo de um Incêndio Florestal ou queima controlada, ou seja, como se comporta o fogo no terreno que está sendo afetado, sua forma de propagação, velocidade de avanço nas diferentes frentes, o dinamismo da coluna convectiva e a quantidade de energia calórica que se transfere ao ambiente.

O comportamento do fogo depende das características da área respectiva, representada pelos fatores: topografia, condições atmosféricas e tipos de vegetação.

Há de se observar que para acontecer um incêndio florestal três fatores devem ocorrer simultaneamente, o que pode ser chamado de triângulo do incêndio florestal: Topografia, Clima e combustível, onde temos os seguintes aspectos:

Topografia

 Declividade - altitude
 Forma do terreno
Tipo de terreno

Clima (condições atmosféricas)

 Temperatura - horários críticos: das 12 às 16 h
 Umidade relativa do ar: crítica abaixo de 20%
 Pressão atmosférica; quanto menor, mais facilita a expansão dos gases.
 Direção e velocidade do vento

Combustível (vegetação)

 Leve e pesado
 Umidade interna da vegetação
 Fase de pré-aquecimento; o calor elimina o vapor d’água e continua aquecendo o combustível até a temperatura máxima imediatamente anterior ao ponto de ignição (260 a 400ºc) o Fase da destilação ou combustão dos gases; 1250ºC
Fase da incandescência ou do consumo do carvão

Se for feita uma correta avaliação desses fatores, é possível prognosticar o que pode suceder quando se desenvolve um incêndio.


CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO TIPO E PROPAGAÇÃO

É a classificação baseada no desenvolvimento do fogo e pode ser de quatro tipos:

1 - Incêndio de solo ou incêndio subterrâneo e turfa - é aquele que ocorre junto ao solo, queimando restos vegetais, turfas, folhas secas, galhos e gramíneas, que formam o "piso" do terreno;



2 - Incêndio superficial ou incêndio rasteiro - é aquele que o fogo queima vegetação baixa, como capim, arbustos e pequenas árvores;


3) incêndio de copa / aéreo - é aquele que atinge e se propaga nas copas das árvores, tornando-se os mais difíceis de serem combatidos;


4) incêndio total - é aquele que ocorre concomitantemente entre as três classificações anteriores (incêndio solo e subterrâneo, incêndio superficial/rasteiro e incêndio de copa e aéreo);







ACEIROS

Os aceiros são áreas raspadas, onde é retirada toda a vegetação, ficando o terreno sem combustível (vegetação) e, portanto sem condições de início ou de propagação de fogo, pois proporciona uma separação de áreas de vegetação. Este tópico a respeito de aceiro é feito nesta parte introdutória, pois interessa tanto à Prevenção quanto ao combate ao incêndio florestal.

Os aceiros podem ser classificados em três tipos:

            1 - Aceiros preventivos: é aquele realizado antes e durante as operações de prevenção de fogo em mato. Por meio de ferramentas ou tratores, raspa-se uma área da vegetação de forma que fique uma área de isolamento entre as vegetações, evitando a passagem do fogo. As distâncias variam de acordo com a altura da vegetação que se quer separar, normalmente, se obedece a proporção de quatro vezes a altura de vegetação.






            2 - Aceiros emergenciais: é aquele realizado durante uma operação de combate a incêndio florestal. Neste tipo de aceiro, as distâncias de separação vão variar de acordo com o maquinário ou ferramentas disponíveis, buscando sempre a proporção de 4:1, conforme o aceiro preventivo;




3 )- aceiros de segurança: é aquele realizado após a ocorrência de uma queimada, evitando a reignição.




As medidas dos aceiros podem variar em:

1) comprimento - o comprimento do aceiro deve ser aquele que tenha condições de circunscrever totalmente a área que está queimando ou a área a ser protegida;

2) largura - a largura é bastante variada, pois pode ser de 50 (cinqüenta) centímetros quando se trata de incêndio de solo e de dezenas de metros, quando se trata de florestas com incêndio de copa.


NOÇÕES PRÁTICAS PARA CONSTRUÇÃO DE UM ACEIRO

É importante, na construção do aceiro, que a largura seja suficiente para conter o fogo, mas não mais larga que o necessário, pois se pode gastar mão de obra e tempo que faltará para cercar o fogo em toda sua extensão.

Deve-se tomar muito cuidado com a vegetação mais alta, pois pode ocorrer de ser feito um aceiro bem limpo no solo e o fogo passar com facilidade na parte mais alta.

Normalmente, é necessário que o aceiro seja mais largo, diante do fogo, ou seja, o sentido do vento, sendo menor nos flancos e menor ainda na retaguarda, onde a propagação será contra o vento.

É importante que o aceiro fique bem limpo, ou seja, a terra não deve conter vegetação, nem qualquer outro material combustível.

Caso exista material queimado na área do aceiro, o mesmo deve ser jogado para a área de onde vem o fogo ou área queimada.

O material intacto deve ser jogado para a área a ser protegida, para que se diminua o volume de combustível, nas proximidades do aceiro.

É importante para a rapidez da construção de aceiros que se utilizem o aceiro natural, como rios, lagos, estradas, ou mesmo formações rochosas que bloqueiam naturalmente o avanço do fogo.

Meios preventivos:

São todos os recursos disponíveis para que se tenha a maior segurança possível na preservação da flora contra o fogo. Podendo ser:

1) campanhas educativas - aquelas que visam conscientizar a população, tanto urbana quanto rural, do perigo que representam os incêndios florestais, bem como dos procedimentos que devem ser tomados para evitá-los e ainda as técnicas adequadas para combatê-lo o mais rápido possível. Essas campanhas podem ser feitas através de palestras, panfletos, boletins, cartazes, avisos em áreas de maior perigo etc;

2) aceiros – para isolamento de áreas de risco, evitando a propagação do fogo;

3) vigilância florestal - é um dos mais importantes meios preventivos, pois por intermédio dele pode ser detectado com rapidez o início do incêndio, bem como ser observado os seus agentes causadores, dos quais o principal é o homem, de modo a orientá-lo ou impedi-lo de práticas perigosas coercitivamente. Pode ser fixa (por meio de torres de observação) ou móvel (por meio de observação com aeronaves, veículos, motos, 
quadriciclos, a cavalo ou mesmo a pé, dependendo da dimensão da área e da topografia local).

4) retardantes químicos - são substâncias químicas que tem a propriedade de dificultar tanto o surgimento do incêndio como a sua propagação e agem através de uma película química sobre a vegetação. Existem vários compostos químicos que possuem essa propriedade e os mais eficientes são o Sulfato de Amônia (NH4)2SO4 em solução a 20% e o Diamônio Fosfato (NH4)2HPO4 a 18%, que devem ser pulverizados na vegetação a ser protegida;

5) cortinas de segurança - as espécies vegetais apresentam reações diferentes à ação do fogo.
Basicamente essa cortina é a plantação de certas espécies mais resistentes à ação do fogo, retardando sua propagação, para proteção de outras espécies que queimam com muita facilidade. Ex: plantar eucalipto em um reflorestamento de Pinus.






MÉTODOS DE COMBATE A INCÊNDIO FLORESTAL

Método direto

É aquele pelo qual permite a aproximação suficiente do pessoal ao fogo para o combate direto às chamas, onde são usados os seguintes materiais: água (por meio de Auto Bomba (AB), Auto Tanque (AT), mochilas d’água, bomba costal, etc), terra (utilizando pás ou enxadas) ou ainda por meio de abafadores, galhos de árvores, sacos molhados etc. É um método que tem bom efeito em vegetação rasteira.





Método indireto

Aplicado em incêndios de grande proporção, quando a intensidade do fogo é muito grande e não há possibilidade de aproximação, podendo ser aplicado de duas maneiras:

a) através de abertura de aceiros - o fogo é eliminado ao atingir o aceiro, que impedem a sua propagação.

b) fogo de encontro - é o método indireto pelo qual é colocado fogo controlado, a partir de um aceiro natural ou construído, no sentido contrário à propagação do fogo e em direção à frente principal. Como a propagação normal do incêndio é no sentido do vento, o fogo de encontro é colocado no sentido contra o vento, e quando os dois se encontram, provoca-se a sua extinção, pois em ambos os sentidos não haverá combustível para a propagação. É uma técnica eficiente que deve ser aplicada por pessoal experiente, porém perigosa, caso não se tenha pleno controle da situação.



Método paralelo

Quando o calor desenvolvido pelo fogo permite certa aproximação, mas não o suficiente para o ataque direto, usa-se esse método, que consiste em:

a) fazer rapidamente um pequeno aceiro de 0,30 m a 1, 00 m de largura, paralelo à linha do fogo. Ao chegar ao aceiro, o fogo diminuirá a intensidade e poderá ser atacado diretamente; e

b) fazer a construção de uma linha fria com o uso de água por meio de viaturas ou bombas costais de forma a criar-se um obstáculo úmido à frente do fogo e, havendo possibilidade, envolvendo o seu perímetro, para ser atacado diretamente.



Método aéreo

É efetuado em áreas ou locais de difícil acesso pelo pessoal de combate aos incêndios. Este método é usado em incêndios de copa ou incêndios aéreos de grande intensidade, utilizando-se aviões e helicópteros adaptados ou construídos especialmente para debelar esses incêndios.






REGRAS BÁSICAS PARA A SEGURANÇA NA ATIVIDADE DE COMBATE

1) Aproveite as barreiras naturais (estradas, córregos, estrada de ferro, caminhos de terra batida) para utilizá-los como aceiro, evitando perda de tempo e desgaste físico;

2) Mantenha sua ferramenta afiada e em perfeito estado de conservação;

3) Mantenha-se vigilante contra árvores que possam cair, animais peçonhentos, pedras que possam rolar;

4) Ao caminhar na mata, transporte ferramenta na mão, abaixo da linha de cintura;

5) Ao utilizar ferramentas de corte em vegetação, tome cuidados com lascas nos olhos e com os companheiros;

6) Moto serras, enxadas e outras ferramentas de corte que tenham cabo comprido, transporte com a parte do corte para frente se estiver descendo e vice-versa;

7) Não encoste ou sente, nem deite, à frente, atrás ou debaixo de um trator, mesmo parado ou estacionado;

8) Cuidado ao deslocar na frente ou atrás de um trator trabalhando. Não se utilize do trator para transporte de pessoas;

9) Nas grandes e médias operações é sempre interessante manter um posto de comando (PC) com pessoal da área de primeiros socorros e, se a operação for longa, manter um ambulatório e soros antiofídicos, remédios e outros recursos. No PC também deverão estar centralizadas as comunicações com o grupo de combate e com o pessoal de recursos e de apoio que não estão envolvidos diretamente no combate, mas sim que estão no apoio operacional;

10) Toda ordem e plano deve ser exarada pelo comandante operacional da operação definido no local entre os diversos órgãos que participam da ocorrência ou pelo comandante da operação do Corpo de Bombeiros que, em campo, deve ter o bom senso de comando e ouvir as opiniões e colaborações dos representantes de outros órgãos envolvidos na operação. Toda a responsabilidade legal da ocorrência de prevenção, combate, proteção e extinção de incêndios são de responsabilidade do comandante operacional da emergência, ou seja, do representante e comandante do Corpo de Bombeiros da operação em sua graduação ou posto, conforme a ocorrência e pessoal envolvido;

11) Tendo em vista os vários órgãos e pessoal diversificado, que participarão dos trabalhos operacionais, é de bom alvitre que todos os grupos formados pelos líderes tenham ao menos um policial militar, preferencialmente da área de combate a incêndio e salvamento ou da área de policiamento ambiental, devidamente treinado e capacitado em operações de incêndio florestal;

12) A prática tem demonstrado que nessas horas existem várias tentativas esporádicas de iniciativa, dos vários órgãos e instituições envolvidas e que se não houver o firme propósito da coordenação operacional e concentração dos esforços de todos a serem direcionados pelo comando da operação, o fracasso e o desinteresse será geral;

13) Deve também o comando operacional ter o controle correto de seus homens e ainda providenciar os recursos de bastidores para o sucesso da operação como, por exemplo: planejar almoço, jantar, lanche, rendição para que não haja atrasos e alimentação compatível e rendição do pessoal de linha de frente, fatos que, se não respeitados, podem abalar a moral dos envolvidos na operação, afetando o rendimento e criando animosidades;

14) Deve o chefe da operação manter um ou dois bombeiros como estafetas e também como redatores de dados, fatos, nomes, informes e alterações que servirão para o relatório operacional elaborado após a ocorrência.


Mazal Tov

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